No princípio era o Dirceu. Depois veio Dilma, e finalmente Erenice. A linha evolutiva na Casa Civil de Lula é um show de coerência.
Dirceu é padrinho de Dilma, que é madrinha de Erenice. Os três têm em comum o mesmo carinho pela coisa pública. É tanto carinho, que a tratam como se fosse deles.
Na era Dirceu, a Casa Civil era a torre de controle do mensalão, segundo o Ministério Público. Foi nessa fase que alguns milhões de reais do Estado brasileiro foram parar nos cofres do PT.
Na era Dilma, a Casa Civil continuou servindo a fins particulares – no caso, privatizando informações do Estado. Ali se fazia “banco de dados” de ex-presidente da República. Operado por quem? Por ela, Erenice Guerra.
E quando Dilma saiu, o que aconteceu com sua fiel escudeira, fartamente denunciada no caso do dossiê FHC? Virou ministra. Tornou-se a dona da pasta mais importante do governo, hospedada dentro do Palácio do Planalto.
E “dona” não é força de expressão, como se pôde constatar. Irmãos, filhos, compadre de filho – a grande família de Erenice mudou-se para o governo do Brasil. É impressionante a quantidade de bons gestores no clã da amiga da gestora Dilma.
É claro que tanta gestão ia acabar em indigestão. A nomeação como ministra-chefe da Casa Civil de uma funcionária obscura, sem nenhuma expressão no universo político-administrativo, e ainda por cima acusada de conspiração, já foi um escárnio contra o cidadão – que não está nem aí para nada.
Quem empurrou essa ministra de ocasião goela abaixo dos brasileiros? A mesma pessoa que lidera as pesquisas para presidente, agora com cara de não sei, não vi, não conheço.
Afastada do governo com sua penca de indícios de tráfico de influência, Erenice Guerra é unha e carne, imagem e semelhança, estilo e método de Dilma Rousseff.
A grife Dirceu-Dilma-Erenice é de uma eficiência impressionante. Precisam de muito pouco tempo com a mão na máquina para posicionar seus companheiros e passar a ordenhar o Estado – sempre em nome do povo, essa entidade altamente lucrativa. São mesmo uns revolucionários.
É mais do que compreensível a queixa de José Dirceu contra o excesso de liberdade de expressão e o abuso da informação.
Se não fosse a imprensa burguesa com sua mania de perseguir o governo popular, Erenice teria dado continuidade tranqüilamente à sua obra. Isso não pode ficar assim. Guerra é guerra.
Vamos ver o que o Plano Dilma trará para coibir essas manchetes inconvenientes, que vivem atrapalhando a revolução particular do PT.
Guilherme Fiúza é colunista da revista Época
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