terça-feira, 28 de setembro de 2010

NOTA DE ESCLARECIMENTO DE JOSÉ AUGUSTO MAIA

Foi com surpresa que recebi a notícia de uma matéria publicada no Blog Diário da Sulanca, informando a população que a nossa militância estaria entregando material político, no calçadão do Moda Center, sem o meu candidato a Deputado Estadual Cecílio Galvão.

Mais importante que o sensacionalismo da matéria, foi o não registro que também havia o material com Cecílio. Tínhamos duas frentes de ação estrategicamente planejadas para aquele local, porque no Moda Center, como todos sabem, se encontram pessoas de todas as regiões do estado. As ações são as seguintes:

1- A distribuição de material com a chapa completa para os eleitores da nossa região (não informado pelo nobre jornalista);

2- A distribuição de material para as pessoas de outras regiões, que já tinham um candidato a Deputado Estadual nas suas cidades.

Restabelecida a verdade dos fatos, reafirmo categoricamente que Cecílio Galvão é o meu candidato a Deputado Estadual e não abro mão disso.

Tenho a certeza de que a nossa campanha é vitoriosa, porque o povo de Santa Cruz e Belo Jardim entendeu a nossa mensagem, aceitou as nossas propostas e estará conosco na festa da vitória desta dupla que já é vencedora.

José Augusto Maia, candidato a Deputado Federal

Na reta final da campanha Diogo confronta Edson Vieira

Diogo Moraes apresentou uma postura incisiva durante toda a entrevista
A segunda das três entrevistas com os santa-cruzenses candidatos a deputado em 2010, na rádio Comunidade FM nesta terça-feira (28), teve como destaque uma postura firmemente combativa do candidato a deputado estadual Diogo Moraes (PSB) em relação ao deputado Edson Vieira (PSDB).

Até então, a campanha do deputado oposicionista não tinha recebido nenhuma confrontação direta, nem na publicidade volante nem nos discursos de palanque de Diogo Moraes em Santa Cruz do Capibaribe. Por isso, a mudança de postura de Diogo na reta final da campanha não deixa de ser surpreendente.

Durante vários momentos da entrevista Diogo realçou a sua condição de aliado político de confiança do governador Eduardo Campos, o que lhe colocaria, caso eleito deputado estadual, em condições privilegiadas para conquistar obras e investimentos do governo estadual para Santa Cruz do Capibaribe. Segundo o candidato, Edson Vieira, mesmo vindo a aderir ao governo em 2011, não disporia da mesma capacidade de interlocução.

Tal qual aconteceu na entrevista de ontem com o deputado Edson Vieira, Diogo foi instado por um dos entrevistadores a garantir, se eleito, que exercerá integralmente os quatro anos de mandato de deputado. Diferentemente de Edson, que evitou assumir publicamente um compromisso nesse sentido, Diogo garantiu que não tem qualquer pretensão em disputar a Prefeitura em 2012, e que cumpriria em sua totalidade o mandato na Assembléia Legislativa.

Quanto à sua expectativa de votação no Estado, Diogo afirmou que a meta da campanha é atingir os 40.000 votos. O candidato os municípios mais importantes nos quais espera obter essa votação. Segundo Diogo, 35.000 votos seriam suficientes para sua eleição.

Em relação á candidatura de José Augusto (PTB) a deputado federal, Diogo assegurou que mantém, até hoje, o compromisso firmado com o ex-prefeito no Palácio do Campo das Princesas, diante do governador Eduardo Campos, e que votará no 1440 no próximo domingo.

Diogo teve ainda que responder a uma pergunta delicada: porque no seu comitê não está colocada nenhuma imagem do prefeito Toinho do Pará? Segundo Diogo, o motivo é o fato do prefeito não ser candidato este ano. Um dos entrevistadores lembrou ao candidato que o presidente Lula também não disputa mandato este ano e, no entanto, a sua foto está no comitê. Diogo respondeu que esta é uma questão à parte, pois a imagem da candidata Dilma Roussef está nacionalmente colada à de Lula, e que por isso não faria sentido que aqui fosse diferente.

O candidato abriu a última parte da entrevista pedindo aos eleitores santa-cruzenses uma oportunidade para representá-los na Assembléia Legislativa. E concluiu reafirmando a convicção na sua eleição no próximo domingo.

A série de entrevistas da Comunidade FM com os candidatos locais será concluída na próxima quinta-feira às 10h30min, com a participação do ex-prefeito José Augusto Maia, candidato a deputado federal.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Edson Vieira afirma que pode chegar a 60.000 votos no Estado

Otimismo e descontração foram a tônica da entrevista do deputado Edson Vieira
Abrindo a série de entrevistas da rádio Comunidade FM com os três candidatos locais às eleições proporcionais deste ano, o deputado Edson Vieira (PSDB) mostrou-se bastante otimista em relação aos resultados que espera obter nas urnas no próximo domingo.

Em Santa Cruz do Capibaribe o deputado espera receber pelo menos 20 mil votos. No Estado, a expectativa de Edson é superar a barreira dos 60.000 votos. Se isto acontecer, ele deverá estar entre os três candidatos a deputado estadual mais votados do PSDB em 2010.

Motivos para tamanho otimismo existem de fato. Além de ter, nos últimos anos, alargado as suas bases em comparação com o pleito anterior, Edson faz uma campanha sem contestações em Santa Cruz do Capibaribe. Por conta disso, e também pela eficiente coordenação de campanha, os comícios do candidato têm atraído um público numeroso. O deste domingo (26) foi o maior evento político realizado em 2010 na cidade (ver post abaixo).

Instado a garantir que, uma vez reeleito deputado, ficaria na Assembléia Legislativa pelos quatro anos de mandato, o que equivaleria a descartar uma candidatura a prefeito em 2012, Edson desconversou, evitando assumir qualquer compromisso neste sentido.

Uma outra interessante pergunta teve uma resposta mais elaborada: se ele não tinha pretensões a disputar um mandato de deputado federal daqui a quatro anos. Vieira respondeu dizendo que, se isto acontecesse, poderia converter os seus esperados 60.000 votos em 90.000, número que, dependendo do partido pelo qual se candidatasse, poderia garantir uma vaga na Câmara dos Deputados.

Uma leitura lógica das respostas dadas às duas questões acima é que o deputado não descarta uma candidatura a prefeito em 2012, embora esteja mais interessado, hoje, na disputa proporcional de 2014, só que de olho em Brasília.

Quanto à próxima eleição para a presidência da Câmara de Vereadores, Edson mostrou-se 100% convicto (expressão sua) de que o cargo máximo da Casa caberá ao grupo de Oposição.

Sobre uma provável adesão ao governo Eduardo Campos, a partir do ano que vem, conforme sinaliza o seu partido, o PSDB, Edson diz que, caso venha a ser convidado a integrar as hostes palacianas, irá consultar os vereadores e líderes históricos do grupo Boca-preta antes de decidir, bem como lideranças de outras cidades.

Ele não incluiu na lista dos que seriam consultados o ex-governador Mendonça Filho (DEM), com quem faz dobradinha este ano em Santa Cruz, e descartou a possibilidade de ouvir Diogo Moraes (PSB) e seu pai Oséas Moraes a respeito do assunto, mesmo sendo a dupla a voz oficial do Palácio do Campo das Princesas em Santa Cruz.

Na última parte da entrevista, o deputado fez referências à situação administrativa atual de Santa Cruz do Capibaribe, citando o altíssimo índice de rejeição do prefeito Toinho do Pará, que alcançaria, segundo ele, incríveis 80%. Observou também que não existe sequer uma imagem ou citação do prefeito nos materiais de campanha dos candidatos situacionistas.

Finalizando, Edson prometeu, assim como tem feito durantes os comícios, que na noite do próximo domingo (03) estará comemorando com os santa-cruzenses a sua recondução á Assembléia Legislativa. E que, a depender da intensidade da comemoração, estará nos estúdios da Comunidade FM no dia seguinte, 04 de outubro.

PM do governador do Tocantins usa fuzis para tentar impedir a VEJA de circular no Estado - por Reinaldo Azevedo

Na terça-feira à noite veio a público um manifesto em defesa da democracia e da liberdade de imprensa, lido na quarta por um grupo de 250 pessoas em frente à Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Cinco dias depois, enquanto escrevo, já chegam a quase 45 mil os signatários do documento. Raramente a sociedade civil se mobilizou com tanta força e presteza. O documento diz um sonoro “não” aos arroubos cesaristas do presidente da República, que tem atropelado com desassombro as leis e as instituições.

A imprensa independente é a grande inimiga dos muitos candidatos a déspota que se espalham pelo Brasil e seus esbirros no Judiciário, no Congresso e, infelizmente, no próprio jornalismo — “subjornalismo” ou “jornalismo de aluguel” seriam termos mais apropriados. A rigor, o Estado do Tocantins vive hoje sob um regime de exceção, e um desembargador do Tribunal Regional Eleitoral pretende que os efeitos do regime discricionário que resolveu instituir tenham alcance nacional. Explico.

José Liberato Costa Póvoa concedeu uma liminar impedindo a imprensa do Tocantins de veicular qualquer notícia sobre uma investigação conduzida pelo Ministério Público de São Paulo que aponta o governador daquele Estado, Carlos Gaguim, e auxiliares como beneficiários de uma máfia que atua em vários estados. Não contente, estendeu a sua decisão ao jornal O Estado de S. Paulo, acrescentando o jornal, entáo, à lista de, pasmem! 83 veículos sob censura!

A VEJA desta semana traz uma reportagem sobre as lambanças atribuídas a Gaguim, que disputa a “reeleição” pela coligação Força do Povo, que reúne 11 partidos, inclusive o PT. Ele é, no estado, o grande aliado de Lula, o novo teórico da censura. Acreditem: o governador mobilizou 30 policiais militares, armados com fuzis, para tentar impedir, na madrugada de anteontem, a distribuição da VEJA no Estado. A ordem era para apreender a revista no aeroporto. Nota: não havia decisão judicial nenhuma autorizando a operação.

Tanto a censura prévia como a apreensão de jornais e revistas violam a Constituição. Foi preciso que o procurador da República Álvaro Lotufo Manzano pedisse o auxílio da Polícia Federal para que a revista pudesse chegar à distribuidora.

Ficou claro? Foi preciso acionar a PF para impedir que o governo do Estado recorresse à força armada com o intuito de violar a Constituição. A truculência no Tocantins não pode ser dissociada do ambiente criado por Lula e pelos petistas contra a imprensa, que levou um bando de vagabundos a fazer uma manifestação em defesa da censura em pleno Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, um vexame que ficará para a história da infâmia. É esse tipo de gente que os censores querem proteger.

A mulher, a sogra…

Póvoa, o desembargador que concedeu a liminar de censura, é investigado no Conselho Nacional de Justiça, acusado de vender sentença. Suas relações com Gaguim são boas. Em janeiro, o governador nomeou Nilce Cardoso da Silva para um cargo na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social. No dia 28 de fevereiro, foi a vez de Simone Cardoso da Silva Canedo Póvoa ganhar um cargo de “assessoramento superior” — R$ 3.600 por mês — na Secretaria de Cidadania e Justiça. Elas são, respectivamente, sogra e mulher do desembargador.

Não é um evento local

O maior erro que se pode cometer é tomar essa história como um evento local. Não é! Abundam ações no país contra a liberdade de imprensa. Os pretextos são os mais variados. Póvoa, por exemplo, alega que a investigação corre sob sigilo de Justiça e, por isso, seu conteúdo não pode ser divulgado. Afirma também que as informações estariam contidas num computador roubado etc.

Jornalista não é guardião de sigilo. Que aqueles que têm o dever funcional de protegê-lo o façam e arquem com as conseqüências se não cumprirem a lei. Os repórteres não cometeram crime nenhum; tampouco se associaram a criminosos.

No Tocantins ou em Brasília, o crime não está no jornalismo.


Reinaldo Azevedo é colunista da revista Veja

Edson lota o largo do Rio Verde e realiza o maior comício de 2010

O comício pode ter sido o "empuxo" que faltava na reta final da campanha
Apenas duas semanas depois de haver realizado um comício no Largo do Rio Verde com um público abaixo do esperado, e que ocupou apenas metade da área, o deputado Edson Vieira (PSDB) armou palanque no mesmo local. Incontestavelmente, foi o maior comício realizado em 2010 até este momento.

O sucesso de público neste domingo pode ter sido o "empuxo" para cima que faltava para a campanha ser encerrada em grande estilo. Desde o comício do Largo da Rodoviária, no qual esteve presente o deputado federal Armando Monteiro (PTB), não havia tido um acontecimento de grande impacto na campanha.

Até ontem, o maior desafio de Edson Vieira era evitar que a falta de desafios se tornasse um fator de acomodação para a militância e os correligionários. Sem ser politicamente combatido por nenhum dos seus adversários históricos, Edson corria o risco de ver a calmaria se transformar em monotonia, o que é desaconselhável num final de campanha.

Em comparação com o público presente no Largo do Rio Verde no domingo dia 12, o comício de ontem teve o dobro de pessoas presentes. O sucesso do evento impõe agora um duro desafio ao deputado: realizar um comício de encerramento com um público ainda maior. Não será fácil conseguir.

Zé Augusto promove mais um comício no distrito de São Domingos

Pesquisas teriam mostrado a necessidade de reforçar a campanha em São Domingos
O palanque de José Augusto (PTB) voltou a ser montado no distrito de São Domingos do Brejo da Madre de Deus neste domingo (26). O ex-prefeito e candidato a deputado federal havia realizado um comício na mesma localidade no dia 22/08, ocasião em que esteve presente o deputado e candidato a senador Armando Monteiro (PTB).

O comício de ontem teve um público similar ao do mês passado. No entanto, o evento anterior contou com um número maior de lideranças expressivas, a começar do próprio Armando Monteiro, que na mesma data discursou no palanque de Edson Vieira.

Segundo informações da coordenação da campanha de José Augusto, o motivo determinante na escolha de São Domingos para se fazer mais um comício de domingo foi a necessidade de uma presença mais efetiva da campanha do candidato no distrito, identificada em pesquisas internas.

Embora consciente de que parte do público de José Augusto, sobretudo os jovens, poderia preferir ir para o comício do deputado Edson Vieira (PSDB) no Largo do Rio Verde do que ir para São Domingos, a coordenação da campanha achou que valeu a pena correr o risco.

domingo, 26 de setembro de 2010

Diogo Moraes realiza carreata seguida de comício

Ao término da carreata, Diogo realizou comício defronte do seu comitê
No sábado (25) o candidato a deputado estadual Diogo Moraes (PSB) promoveu mais uma carreata, estratégia que vem privilegiando em sua campanha, juntamente com as caminhadas nos bairros. Desta vez, no entanto, o candidato optou por concluir a carreata com um comício, realizado defronte ao seu comitê, localizado na avenida 29 de Dezembro.

Diferentemente do comício de abertura de campanha, quando estiveram presentes o governador Eduardo Campos (PSB) e o candidato a senador Humberto Costa (PT), o evento deste sábado não contou com estrutura de palanque. Os oradores discursaram de cima de um reboque de som.

Estiveram presentes, dentre outros, o ex-deputado Oséas Moraes, pai do candidato, o prefeito de Taquaritinga do Norte Evilázio (PSB), o presidente da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Capibaribe Fernando Aragão (PDT), o vereador Galego de Mourinha (PTB) e o secretário de Meio Ambiente (Rui Medeiros).

Alguns Toyotas foram alugados para trazer populares à carreata e ao comício. Ainda assim, o público do evento final foi reduzido.

sábado, 25 de setembro de 2010

A lei do Ficha Limpa e um Supremo infiltrado pelo populismo judicial - por Reinaldo Azevedo

Eis aqui um texto delicado sobre tema delicado, com uma opinião deste escriba que desagrada a muitos leitores. Bem, fazer o quê? Vocês me lêem porque sempre escrevo o que penso. É há coisas que, de fato, dividem a valer a opinião dos leitores do blog. A chamada Lei do Ficha Limpa é uma delas.

Eu me alinho entre aqueles que a consideram flagrantemente inconstitucional. Uma pessoa só é considerada condenada depois que sua sentença tenha transitado em julgado. Enquanto for essa a lei e enquanto vigorar a Constituição que temos, é um absurdo lógico privar de direitos quem quer que seja em razão de uma condenação que pode ser revista. Atenção! Essa é uma questão que não é nem de direita nem de esquerda. Trata-se, entendo, de não ceder ao populismo judicial.

A situação patética em que se encontra o STF hoje — que deixa o meio jurídico perplexo — decorre justamente do fato de que estamos diante de uma lei especiosa, que afronta a ordem legal. Acho falacioso o argumento de que não se está transgredindo a Constituição porque apenas se estabelece uma condição a mais — no caso, de exclusão — para e elegibilidade. Assim como se exige, dizem, que um candidato a Presidência tenha idade mínima de 35 anos, exige-se que os políticos tenham “ficha limpa”, nas condições estabelecidas na lei.

Devagar aí! A inelegibilidade à Presidência das pessoas com menos de 35 anos não nasce de uma condenação judicial que é PROVISÓRIA até que a sentença não tenha transitado em julgado. O critério é de outra natureza. A sociedade decidiu, por meio de seus representantes, que essa idade mínima daria mais segurança ao processo político. Ok, pode-se debater se a exigência é boa ou ruim. Mas é certo que um tribunal não poderá rever a idade de uma pessoa com 25, declarando ter ela 35, por exemplo. Já um tribunal superior pode rever a sentença do tal “colegiado de juízes”.

A Justiça é lenta? Os processos se arrastam? Pois que se veja como resolver a questão. O que não é possível, entendo, é violar a Constituição e estabelecer atalhos para “moralizar” ex machina o processo político, afrontando o que diz a Carta. Não é possível! A janela que se abre, por onde passa esse “benefício”, pode permitir a passagem de muitos malefícios.

Incomoda-me também, e muito!, a pobreza argumentativa dos que apóiam a lei. Ainda ontem, o ministro Ricardo Lewandowski, ao defender a aplicação da lei já neste 2010, concentrou a sua defesa neste argumento: “A Lei da Ficha Limpa presta inequívoca homenagem aos princípios da probidade administrativa e moralidade, que constituem, a meu ver, o próprio cerne do regime republicano”.

Argumento ruim, ministro! Aliás, ARGUMENTO PÉSSIMO! É uma variante, com retórica meio balofa, do direito achado na rua. O “cerne do regime republicano”, num estado democrático e de direito, é o cumprimento da lei. Talvez a figura histórica que mais tenha se dedicado a defender a “probidade num regime republicano” tenha sido Robespirre. Sua eficiência se contou em cabeças…

Deixando de lado a questão constitucional e jurídica — que parece mesmo indefensável —, dizem muitos: “Ah, mas alguns bandidos não poderão se candidatar”. Pode até ser. Ocorre que, quando se manda a lei às favas para pegar bandido, pode-se mandá-la também para pegar pessoas de bem. Ou um sistema que desrespeita a Constituição “por bons motivos” não pode desrespeitá-la por maus motivos, a depender do poder de turno?

Lei permite caça às bruxas

Poucas pessoas atentaram para o fato de que, entre os indivíduos inelegíveis, estão as que — ATENÇÃO!!!

“forem excluídos do exercício da profissão, por decisão sancionatória do órgão profissional competente, em decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 (oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso pelo Poder Judiciário”

Trata-se de um troço escandaloso! “Órgão profissional” assumiu agora a posição de STF ou STJ, a depender do caso. É claro que se abre aí a porta para perseguições de toda natureza. Imaginem se o PT consegue mesmo aprovar o Conselho Federal de Jornalismo nas condições que os esquerdopatas sempre imaginaram — podendo cassar a licença profissional de jornalistas… Tenham paciência! As coisas não podem se misturar dessa maneira, não! Isso é uma aberração!

E Peluso?

Lamentável, de resto, a postura de Cesar Peluzo, presidente do STF, no julgamento de quinta-feira. A ele, presidente do tribunal, caberia o desempate — e é por isso, e só por isso, que tem a prerrogativa, na presidência, de votar duas vezes. Qualquer coisa que fizesse seria compreensível e facilmente defensável. Mas não! Optou pelo caminho mais fácil para ele e mais difícil para a sociedade. Quem ganha com o impasse? Ninguém, a não ser, talvez, ele próprio, que preferiu se livrar de um peso que é um dos atributos do cargo.

Concluindo

O conjunto da obra não cheira bem, de modo nenhum! Vejo um Supremo que já foi infiltrado por uma espécie de populismo judicial, preocupado demais com o alarido e, em alguns casos, de menos com o cumprimento da Constituição. Que um parlamentar diga na Câmara e no Senado coisas como “se o povo quer, esta Casa quer”, vá lá. A um ministro do Supremo, cabe dizer outra coisa: “Se o povo quer, esta Casa só quererá se estiver de acordo com a Constituição”.

E o Ficha Limpa não está. E, se não está, mas recebe mesmo assim as bênçãos, pode ser apenas uma das vezes em que a Corte Suprema do país endossará a violação do texto Constitucional pelo qual lhe cumpre zelar. Arremato dizendo que estou pouco me lixando se isso deixa Rorizes, Jáderes e caterva fora da política. Eles são pequenos demais para justificar a violação da Constituição.

É o que eu penso.


Reinaldo Azevedo é colunista da revista Veja

O mal a evitar

A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.

Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.

Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.

Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.

Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar.


Editorial do jornal Estado de São Paulo, publicado em 25/09/2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma ameaça real - por Ivanildo Sampaio

Quando o corpo do jornalista Vladimir Herzog apareceu enforcado nos porões do DOI-Codi, órgão de repressão do II Exército, após ter sido vítima de uma longa e desumana sessão de torturas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, tendo à frente o digno e corajoso presidente Audálio Dantas, iniciou uma brava e penosa jornada de protesto, que reuniu não apenas os colegas paulistas, mas se espalhou com um rastilho de pólvora por todas as redações do País. Movimento de protesto que reuniu, num manifesto, 1004 assinaturas de jornalistas de todo Brasil, denunciando aquela ignomínia que se consumava, sob o manto da mentira que vestia as versões oficiais e a indiferença de uma minoria silenciosa que só acompanhava de longe aquele tempo de escuridão. Jornalistas foram presos, torturados, exilados, muitos perderam o emprego e a saúde – mas havia sempre a esperança de que a liberdade cairia sobre nós.

No próximo dia 25 de outubro, daqui há um mês e dois dias, portanto, completam-se 35 anos daquela manhã trágica de sábado – quando a Nação impotente testemunhava mais uma morte provocada e promovida pela ditadura. Jornalistas de minha geração, que viveram aqueles tempos conturbados, lembram bem o clima de terror que pairava sobre cada redação, o medo que todos tinham da presença do censor que acintosamente se misturava com os profissionais da casa, o cuidado que se tinha para não desrespeitar as instruções proibitivas, que compreendiam desde a citação do nome de Dom Helder Câmara até uma simples música de Chico Buarque ou Geraldo Vandré. Mas, apesar de todo esse clima de terror, houve resistência: nasceram, lutaram e morreram os jornais e revistas da imprensa alternativa, entre os quais “Movimento”, “Opinião”, “Ex”, “Pasquim” e outros – pois “quanto mais escura é noite mas reluz o santelmo”, para lembrar uma frase de Andrade Lima Filho.

O presidente da República, um operário que foi vítima da intolerância daquele tempo, que cresceu como líder sindical exatamente porque houve, na imprensa brasileira, quem desafiasse a censura para divulgar o movimento classista que nascia no ABC paulista, esse presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, outra coisa não tem feito, nos últimos tempos, do que atentar contra a existência de um jornalismo livre, independente e crítico, como compete a qualquer democracia. O destemperado de Sua Excelência e dos áulicos que o incentivam geraram críticas contundentes de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação Nacional de Jornais e, por último, da Sociedade Interamericana de Imprensa, mas parece que não bastaram para libertar o presidente de sua insensatez.

No entanto, o maior desrespeito à memória de Vladimir Herzog, nestes 35 anos de seu calvário – e de outros que morreram em nome da democracia – ninguém duvide, foi a utilização das dependências do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo para acobertar mais uma violência contra a imprensa livre. Lá, naquele mesmo espaço onde o Cardeal Paulo Evaristo Arns consolava companheiros e uma diretoria consciente de suas responsabilidades perante a História – à frente Audálio Dantas, Fernando Pacheco Jordão, Paulo Markun e outros – não se curvava diante dos poderosos de então – sentam agora dirigentes de centrais sindicais convocados pelo PT, idealizadores de uma manifestação contra a mídia. Têm como parceiros menores representantes da UNE, que hoje engorda seu caixa com verbas oficiais, e partidos políticos incondicionalmente aliados ao governo.

Foi assim que tudo começou na Alemanha hitlerista e na Itália de Mussolini: o amordaçamento ou a cooptação da imprensa, com o fechamento dos poucos veículos que ainda insistiram em resistir. É uma história muito triste. E todos sabemos que a história só se repete como farsa.


Ivanildo Sampaio é diretor de redação do Jornal do Commercio de Pernambuco

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O desmanche da democracia

A escalada de ataques furiosos do presidente Lula contra a imprensa - três em cinco dias - é mais do que uma tentativa de desqualificar a sequência de revelações das maracutaias da família e respectivas corriolas da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. É claro que o que move o inventor da sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff, é o medo de que a sequência de denúncias - todas elas com foros de verdade, tanto que já provocaram quatro demissões na Pasta, entre elas a da própria Erenice - impeça, na 25.ª hora, a eleição de Dilma no primeiro turno. Isso contará como uma derrota para o seu mentor e poderá redefinir os termos da disputa entre a petista e o tucano José Serra.

Mas as investidas de Lula não são um raio em céu azul. Desde o escândalo do mensalão, em 2005, ele invariavelmente acusa a imprensa de difundir calúnias e infâmias contra ele e a patota toda vez que estampa evidências contundentes de corrupção e baixarias eleitorais no seu governo. A diferença é que, agora, o destampatório representa mais uma etapa da marcha para a desfiguração da instituição sob a sua guarda, com a consequente erosão das bases da ordem democrática. A apropriação deslavada dos recursos de poder do Executivo federal para fins eleitorais, a imersão total de Lula na campanha de sua afilhada e a demonização feroz dos críticos e adversários chegaram a níveis alarmantes.

A candidatura oposicionista relutou em arrostar o presidente em pessoa por seus desmandos, na crença de que isso representaria um suicídio eleitoral - como se, ao poupá-lo, o confronto com Dilma se tornaria menos íngreme. Isso, adensando a atmosfera de impunidade política ao seu redor, apenas animou Lula a fazer mais do mesmo, dando o exemplo para os seguidores. As invectivas contra a imprensa, por exemplo, foram a senha para o PT e os seus confederados, como a CUT, a UNE e o MST, promoverem hoje em São Paulo um “ato contra o golpismo midiático”. É como classificam, cinicamente, a divulgação dos casos de negociatas, cobrança e recebimento de propinas no núcleo central do governo.

Sobre isso, nenhuma palavra - a não ser o termo “inventar”, usado por Lula no seu mais recente bote contra a liberdade de imprensa que, com o habitual cinismo, ele diz considerar “sagrada”. O lulismo promove a execração da mídia porque ela se recusa a tornar-se afônica e, nessa medida, talvez faça diferença nas urnas de 3 de outubro, dada a gravidade dos escândalos expostos. Sintoma da hegemonia do peleguismo nas relações entre o poder e as entidades de representação classista, o lugar escolhido para o esperado pogrom verbal da imprensa foi o Sindicato dos Jornalistas. O seu presidente, José Camargo, se faz de inocente ao dizer que apenas cedeu espaço “para um debate sobre a cobertura dos grandes veículos”.

Mas a tal ponto avançou o rolo compressor do liberticídio que diversos setores da sociedade resolveram se unir para dizer “alto lá”. Intelectuais, juristas, profissionais liberais, artistas, empresários e líderes comunitários - todos eles figuras de projeção - lançaram ontem em São Paulo um “manifesto em defesa da democracia”, que poderá ser o embrião de um movimento da cidadania contra o desmanche da democracia brasileira comandado por um presidente da República que acha que é tudo - até a opinião pública - e que tudo pode.

Um movimento dessa natureza não será correia de transmissão de um partido nem estará atado ao ciclo eleitoral. Trata-se de reconstruir os limites do poder presidencial, escandalosamente transgredidos nos últimos anos, e os controles sobre as ações dos agentes públicos. “É intolerável”, afirma o manifesto, “assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.” “É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.” O texto evoca valores políticos que, do alto de sua popularidade, Lula lança ao lixo, como se, dispensado de responder por seus atos, governasse num vácuo ético.


Editorial do jornal Estado de São Paulo, publicado em 23/09/2010

Lula é um fenômeno religioso - por Arnaldo Jabor

Lula não é um político - é um fenômeno religioso. De fé. Como as igrejas que caem, matam os fiéis e os que sobram continuam acreditando. Com um povo de analfabetos manipuláveis, Lula está criando uma igreja para o PT dirigir, emparedando instituições democráticas e poderes moderadores.

Os fatos são desmontados, os escândalos desidratados para caber nos interesses políticos da igreja lulista e seus coroinhas. Lula nos roubou o assunto. Vejam os jornais; todos os assuntos são dele, tudo converge para a verdade oficial do poder. Lula muda os fatos em ficção. Só nos resta a humilhante esperança de que a democracia prevaleça.

Depois do derretimento do PSDB, o destino do País vai ser a maçaroca informe do PMDB agarrada aos soviéticos do PT, nossa direita contemporânea. Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos, como "razão, democracia, respeito à lei, ética", ficaram ridículos, insuficientes raciocínios diante do cinismo impune.

Como analisar com a Razão essa insânia oficial? Como analisar o caso Erenice, por exemplo, com todas as provas na cara, com o Lula e seus áulicos dizendo que são mentiras inventadas pela mídia? Temos de criar novos instrumentos críticos para entender esta farsa. Novos termos. Estamos vendo o início de um "chavismo light", cordial, para que a "massa atrasada" seja comandada pela "massa adiantada" (Dilma et PT). Os termos têm de ser mudados. Não há mais "propina"; agora o nome é "taxa de sucesso". A roubalheira se autonomeia "revolucionária" - assalto à coisa pública em nome do povo. O que se chamava "vítima" agora se chama "réu". Os escândalos agora são de governos inteiros roubando em cascata, como em Brasília, Rondônia e Amapá - são "girândolas de crimes". Os criminosos são culpados, mas sabem tramar a inocência. O "não" agora quer dizer "sim".

Antigamente, se mentia com bons álibis; hoje, as tramoias e as patranhas são deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira. Está em andamento uma "revolução dentro da corrupção", invadindo o Estado em nossa cara, com o fito de nos acostumar ao horror. Gramsci foi transformado em chefe de quadrilha.

Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Já sabemos que a corrupção no País não é um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos e nas almas. Nosso único consolo: estamos aprendemos muito sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: ganhamos mais cultura política com a visão da figura da Erenice, a burocrata felliniana, a "mãe coragem" com seus filhos lobistas, com o corpinho barbudo do Tuminha (lembram?), com o "make-over" da clone Dilma (que ama a ex-Erenice, seu braço direito há 15 anos), com o silêncio eufórico dos Sarneys, do Renan, do Jucá... Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!

Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno corrupto que faz pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento popular.

Nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, mas fecundas como um adubo sagrado, belas como nossas matas, cachoeiras e flores.

Os canalhas são mais didáticos que os honestos. Temos assistido a um show de verdades mentirosas no chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza para encobrir a impudicícia, as mãos grandes nas cumbucas e os sombrios desejos das almas de rapina. Que emocionante este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos aumentos de patrimônio, filhinhos ladrões, ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, despachos de galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as flatulências fétidas no Senado, as negaças diante da evidência de crime, os gemidos proclamando "honradez" e "patriotismo".

Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos. Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos ser!

Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País, haverá canalhas, enquanto houver estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, nunca haverá progresso.

Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas, sem saneamento, com o Lula brilhando na TV, xingando a mídia e com todos os mensaleiros, sanguessugas e aloprados felizes em seus empregos e dentro do ex-partido dos trabalhadores. E é espantoso que este óbvio fenômeno político, caudilhista, subperonista, patrimonialista, aí, na cara da gente, seja ignorado por quase toda a intelligentsia do País, que antes vivia escrevendo manifestos abstratos e agora se cala diante deste perigo concreto que nos ronda. No Brasil, a palavra "esquerda" ainda é o ópio dos intelectuais.

A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha à ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.

Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo deles.

Por isso, "si vis pacem, para bellum", colegas jornalistas. Se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra.


Arnaldo Jabor é comentarista do jornal Estado de São Paulo e da TV Globo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mais do que choque de torcidas - por Eliane Catanhêde

"É constrangedor que o presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas 24 horas do dia. Não há 'depois do expediente' para um chefe de Estado."

"É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa escancarada manifestação de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura."

São trechos do "Manifesto em defesa da democracia", lançado hoje (quarta-feira, 22/09), em São Paulo, com a assinatura de gente do calibre moral e intelectual de Dom Paulo Evaristo Arns, Hélio Bicudo, Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, Ferreira Gular, Carlos Velloso e Carlos Vereza.

Serve como advertência, num momento em que o país vive um conjunto de circunstâncias excepcionais: uma eleição fria nas ruas, quente na guerra entre os candidatos e preocupante quando o presidente da República joga o peso do cargo, o peso dos seus 80% de popularidade, o peso da comunicação e o peso da máquina pública a favor de um só lado. A disputa tornou-se totalmente desigual.

É a típica ação que comporta uma reação. Se desequilibrou para um lado, sempre haverá como reequilibrar para o outro. E vira uma guerra.

Lula exagerou na dose, assustou, jogou dúvidas sobre o futuro e principalmente irritou não apenas os adversários mas quem tem por ofício observar e comentar o processo eleitoral e aqueles em condições de vigiar o exercício da democracia. Daí o ícone Dom Paulo sair da habitual discrição para assinar um documento com essa força, esse apelo.

Lula poderia ter passado sem essa, e Dilma, mais ainda. O problema é que a alma sindicalista de Lula falou mais alto e ele, inebriado com o próprio sucesso, assumiu o protagonismo total da campanha e não foi capaz de perceber que, a partir de um determinado momento, deixou de ajudar e passou a atrapalhar a trajetória de sua candidata. Durante mais de um ano em que estava em campanha escancarada, trouxe-lhe votos. Justamente quando ela disparou e estava pronta para ganhar tranquilamente em primeiro turno, passou a botar os pés pelas mãos, a atiçar a ira popular contra os adversários e contra a imprensa e a atrair para Dilma chuvas e trovoadas.

O clima é pesado, beligerante, e haverá uma nova batalha hoje, quando nada mais nada menos que o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo abre suas portas para abrigar uma manifestação que pode ter de MST a UNE para protestar contra "o golpismo da imprensa". Seria melhor dizer claramente: contra a liberdade de a imprensa descobrir e anunciar ao digníssimo público, por exemplo, que havia uma central de nepotismo, abuso do poder e negociatas dentro do coração do governo --e justamente na pasta onde a candidatura Dilma foi gerada.

Antes, os sindicatos dos jornalistas se insubordinavam contra a censura e contra a corrupção. Como passar a se insubordinar contra a liberdade de expressão e contra os que denunciam a corrupção?

A eleição passa, mas quem se eleger --e tudo indica que Dilma está virtualmente eleita-- vai herdar esse clima de antipatia, de desconfiança, de divisão da sociedade.

O bordão "herança maldita" foi uma fraude criada por Lula para mobilizar as massas em torno dee contra o antecessor. A verdadeira "herança maldita" é a que fica para o sucessor: a prática de que o o governante de plantão é dono do poder, do país e inclusive da verdade: "O Estado sou eu".

Há muita gente para dizer amém, mas há também muita gente pronta para dizer que não, não é.


Eliane Catanhêde é colunista da Folha de São Paulo

Globo.com: Manifesto em defesa da democracia e da liberdade de imprensa é lançado em São Paulo

Juristas e personalidades lançaram, no início da tarde desta quarta-feira, um manifesto em defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão, em ato em frente à faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). O documento já foi assinado por pelo menos 380 pessoas, como o jurista Hélio Bicudo, o Cardeal Arcebispo Emérito de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, os atores Mauro Mendonça e Carlos Vereza, e intelectuais, como Ferreira Gullar. O ato reuniu cerca de 250 pessoas, segundo a Polícia Militar. O movimento afirma ser apartidário. (leia a íntegra do manifesto em postagem anterior)

O ato acontece após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusar a imprensa de agir como partido político e dizer que a população não precisa mais de formadores de opinião. Na quinta-feira, centrais sindicais, sindicatos, partidos governistas e movimentos sociais farão o "Ato contra o golpismo midiático" , também em São Paulo.

No movimento desta quarta, o jurista Hélio Bicudo leu num microfone o texto do manifesto, que fala nos riscos do autoritarismo.

"É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais em valorizar a honestidade", diz um trecho.

O manifesto também critica a ação de grupos que atuam contra a imprensa: "É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses". O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior disse que jornalistas estão sendo ameaçados em sites do PT.

- Não existe mais liberdade de se denunciar aquilo que envergonha o país, que é a maracutaia dentro do Palácio do Planalto.

Na opinião dele, o ato que deve acontecer nesta quinta-feira promovido por centrais sindicais e pelo PT, de crítica à imprensa, é "um processo imensamente perigoso de radicalização". Ao ser perguntado se o ato desta quarta era contra Lula, Reale Júnior afirmou que o presidente vem agindo de maneira fascista.

- Na medida em que ele passou a denunciar a imprensa, a dizer que não precisa de formador de opinião, a dizer que a opinião somos nós, esta é uma ideia substancialmente fascista. Ele com sua posição de presidente da República, sai de sua cadeira da presidência para ser insuflador contra a imprensa. Isto é perigoso - disse Reale Júnior.

O jurista Hélio Bicudo disse que Lula é presidente em horário integral e criticou Lula por supostamente usar seguranças da Presidência em comícios.

- Ele tenta desmoralizar a imprensa, tenta desmoralizar todos que se opõe ao seu poder pessoal. Ele (Lula) tem opinião, mas não pode usar a máquina governamental para exercer essa opinião - disse Bicudo, para quem o Brasil está à beira do risco de um governo autoritário.

Autocombustão - por Dora Kramer

O desfile triunfante do governador Pedro Paulo Dias pelas ruas de Macapá ao deixar a cadeia e o discurso do presidente Luiz Inácio da Silva acusando a imprensa de destilar "ódio e mentiras" enquanto os fatos mostram violação de sigilo fiscal, corrupção e nepotismo no governo são partes de um todo.

E qual é esse todo? É a transposição da verdade em mentira e vice-versa, da vergonha em orgulho, da acusação em defesa, da razão para comemorar em motivação para a fúria, do presidente da República em cabo eleitoral, da volta de Lula ao patamar de origem.

Deixa a Presidência menor do que quando chegou, dando margem a que se conclua que quem nasceu para sindicalista nunca chega a estadista.

E isso em nome de quê?

Pelo que se vê dos atos do presidente, pela desconstrução que faz do próprio símbolo do lutador, do vencedor, do democrata, do fundador do partido renovador, do exterminador de corruptos, o mais importante para ele é a disputa da hora.

Por isso não leva em conta o passado nem se preocupa com os efeitos futuros: interessa o aqui e o agora. E agora só o que importa é eleger Dilma Rousseff no primeiro turno.

Se o País retrocede institucionalmente, se o presidente perde prestígio e respeitabilidade, se a democracia é ferida, nada disso é visto. Só se enxerga a construção de uma vitória grandiosa.

Maior que as duas anteriores, pois Lula terá criado um ser eleitoral do nada e conseguido impor uma derrota avassaladora ao adversário que se preparou a vida toda para ser presidente.

A possibilidade de que as coisas não saiam exatamente como o sonhado e o empenho para que saiam a contento parecem para Lula valer o risco de pôr a perder a parte mais sólida de seu patrimônio: a imagem construída ao longo dos últimos 30 anos.

Quando demonstra desapreço pela democracia na política externa, o presidente sempre pode recorrer à desculpa de que não se imiscui na política dos países. Ainda que ditaduras.

Mas quando faz o mesmo no país que governa, mas cuja Constituição desrespeita no tocante à liberdade de imprensa e na obrigação de ser impessoal no cargo, não há disfarce possível e acaba por contrariar os próprios interesses.

Lula quer manipular a realidade jogando ao mesmo tempo para dois públicos: o informado, que exige punições; e o não-informado que acredita quando diz que a imprensa mente e o persegue.

Não aceita jogar na regra, parte pra cima, como no sindicalismo, mas o problema é que ao fazer isso acaba se revelando manipulador e truculento à vista de todos.

Não que Lula seja diferente do que sempre foi: ao contrário, está mais igual do que nunca. Quando na oposição nunca carregou com distinção as derrotas nem conviveu bem com as críticas.

De jornalista para político, conversas com ele que não fossem de concordância ou admiração eram conversas difíceis. Dos tempos do sindicato às candidaturas presidenciais.

Não obstante as evidências, Lula sempre foi muito festejado, principalmente na imprensa, jamais se apontou nele qualquer traço autoritário.

Mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o conhece muito bem, em 2002 acreditou que teria a biografia enriquecida com o fato de o sucessor ser "um líder operário que chegou a presidente", sendo recebido pelo antecessor derrotado com todas as fidalguias de uma transição civilizada.

Fato é que independentemente da realidade, a imagem de Lula aqui e no exterior para a maioria sempre foi das melhores. E não falamos da maioria de triste destino que de tão carente não precisa de muito para adotar um salvador.

Lula sempre privou da maior respeitabilidade entre bem estudados, bem nascidos, bem alimentados e bem vestidos. Notadamente aqueles com acesso ou com assento nos meios de comunicação. Foi aí que se originou o mito.

E é por aí também que se desmistificam as imposturas.


Dora Kramer é colunista do jornal Estado de São Paulo

Volta a manipulação do golpismo

Assim como garante a liberdade de imprensa e expressão, a Constituição sustenta o direito à reunião — prerrogativas democráticas clássicas, restabelecidas pela Carta de 1988.

O PT, portanto, faz o que a lei permite ao convocar para amanhã, em São Paulo, um ato contra o “golpismo da mídia”, ao qual haviam aderido centrais sindicais, CUT à frente, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e os partidos aliados PCdoB, PSB e PDT.

Se não contraria qualquer dispositivo legal, a iniciativa do PT, de evidente intuito eleitoreiro, atropela os fatos, não passa de repeteco do truque manipulador usado desde o estouro do escândalo do mensalão, em 2005.

Ali começou, com tinturas acadêmicas, fermentada por intelectuais petistas, a tese do “golpismo” da imprensa independente, usada toda vez que, por dever profissional e ético, ela noticia fatos objetivos que porventura contrariem o projeto de poder lulopetista.

Foi assim também no caso dos aloprados; e agora o mesmo mecanismo volta a ser acionado na defenestração do braço direito de Dilma Rousseff na Casa Civil, Erenice Guerra, sucessora da candidata no cargo de ministra.

É desconhecer a função do jornalismo profissional imaginar que o caso de Erenice e de sua grande família não deveria ter destaque no noticiário, em nome de um equivocado tratamento equânime dos candidatos.

Como cada notícia tem peso próprio, impossível não dar destaque às acusações, com provas documentais, da existência de um ninho de lobismo montado na Casa Civil pelo filho da ministra Erenice, Israel. Os desdobramentos do escândalo falam por si sobre a proporção da história: além da ministra, exonerações na Casa Civil e nos Correios.

Mais uma vez a militância desengaveta a ideia de “golpismo” como forma de jogar areia nos olhos da sociedade, para esconder evidências difíceis de disfarçar. Uma delas é que, se tudo não passa de maquinações da imprensa, por que exonerar a confiável, fiel Erenice e os demais funcionários?

Também é preciso muito contorcionismo para dissimular a condição de obedientes correias de transmissão governista das centrais sindicais e UNE, cuja adesão tem rendido nestes quase oito anos de lulismo generosos repasses de dinheiro do contribuinte.

As centrais, tornadas entes reconhecidos pelo Estado, dentro do velho modelo varguista que Lula e a CUT tanto criticaram em outros tempos, passaram a receber parte do imposto sindical. Já a UNE perdeu o poder de crítica e de mobilização, quando aprendeu o caminho mais curto de acesso a verbas oficiais.

A encenação de amanhã é apenas mais uma prova de como o governo Lula, com o manejo de recursos públicos — verbas e vagas — , cooptou o sindicalismo, partidos e organizações outrora aguerridas.

E com isso a vida política brasileira foi amesquinhada, passou a ser um jogo de cartas marcadas, onde proliferam o fisiologismo, clientelismo e o patrimonialismo — os três “ismos” que resumem um cenário desanimador, no qual o Brasil demonstra ter dificuldades de escapar da sina nacional-populista que voltou a rondar a América Latina.

O “golpismo” é mais um efeito especial, um adereço de mão neste enredo de fins autoritários, com slogans em prol da democracia, mas cujo objetivo, ao investir contra independência da imprensa, é o oposto.


Editorial do jornal O Globo, publicado em 22/09/2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Estadão.com: Personalidades lançam manifesto em defesa da democracia

Num momento em que o governo do presidente Lula se dedica a investidas quase diárias contra a liberdade de informação e de expressão e critica a imprensa por divulgar notícias sobre irregularidades na Casa Civil, um grupo de personalidades de diferentes setores - entre eles juristas, intelectuais e artistas - decidiu lançar um “Manifesto em Defesa da Democracia”, cuja meta é “brecar a marcha para o autoritarismo”.

O ato público será realizado nesta quarta-feira, 22, ao meio dia, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.

Entre seus signatários estão o jurista Hélio Bicudo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola, o poeta Ferreira Gullar, Dom Paulo Evaristo Arns, os historiadores Marco Antonio Villa e Bóris Fausto, o embaixador Celso Lafer, os atores Carlos Vereza e Mauro Mendonça e a atriz Rosamaria Murtinho.

Leia abaixo o texto do manifesto:

"Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.

"Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

"Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

"É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

"É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

"É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

"É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

"É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.

"É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

"É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

"É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

"Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

"Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

"Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos."
Na última reunião da Câmara de Vereadores antes do pleito do próximo dia 03 de outubro prevaleceram, conforme já era esperado, os pronunciamentos de forte conteúdo político eleitoral.

O clima político dos discursos contaminou a platéia e em vários momentos manifestações do público interromperam as falas. Por conta disso, o presidente da Casa, vereador Fernando Aragão, por diversas vezes ameaçou esvaziar o plenário.

Diferentemente dos colegas, que optaram pelo conteúdo político, o vereador Júnior Gomes fez um emocionado discurso, focado na doença e morte da sua irmã, Alyne, destacando também a solidariedade que a família tem recebido da sociedade santa-cruzense neste momento difícil.

Confira abaixo o resumo dos discursos feitos pelos vereadores.

Abrindo a noite de pronunciamentos, Ernesto Maia trouxe logo a campanha política à tona. Ernesto se referiu ao discurso da última semana de Dimas Dantas, que colocou em xeque a capacidade do ex-prefeito de Belo Jardim, Cecílio Galvão. O vereador disse que Cecílio atendeu um convite do governador Eduardo Campos para se candidatar no pleito deste ano. EM fez questão de frisar um passado de fidelidade política do grupo Galvão em Belo Jardim em relação ao governador. O legislador relatou ainda a interferência direta de Eduardo Campos no sentido de beneficiar a candidatura de Cecílio, o que fará com o que ele seja um dos deputados estaduais eleitos na eleição do próximo dia 03. O vereador falou ainda sobre a postura do vereador Afrânio Marques sobre sua oposição à candidatura de Zé Augusto Maia à Câmara Federal, e relatou que o deputado estadual Edson Vieira quando exerceu o mandato de presidente da Câmara Municipal de SCC, teve prestações de contas reprovadas, fazendo com o que, segundo ele, Edson também se tornasse um político “ficha-suja”. Para finalizar o vereador disse que a oposição quer usar dos trâmites de um requerimento apresentado na última semana para prejudicar a candidatura de José Augusto.

Galego de Mourinha foi mais um que abriu seu discurso fazendo referências á campanha política deste ano. Galego lamentou a falta de união no grupo “taboquinha”. Ele disse que procurou de todas as formas de viabilizar a coesão de todas as principais lideranças envolvidas no processo eleitoral. Ele relatou algumas conversas onde foram acordadas estratégias para a campanha deste ano, que incluía até a vinda de grandes nomes da política local. O vereador falou ainda que a eleição de Diogo Moraes seria muito benéfica para SCC e falou ainda que Cecílio Galvão seria um bom deputado, no entanto, seria melhor para Belo Jardim. O parlamentar falou ainda de José Augusto Maia, e disse que sua vitória seria muito importante para o desenvolvimento de toda a região. Em um momento raro da campnha o vereador criticou duramente o deputado Edson Vieira e disse que o mesmo não trouxe absoltamente nada para a cidade de SCC, e que tudo o que a cidade conseguiu de benefícios foi ainda quando do mandato de Toinho do Pará na ALEPE.

Fugindo inicialmente do debate político, Zezin Buxin cobrou do atual secretário de Obras de SCC a resolução de alguns problemas estruturais em vários pontos da cidade. ZB disse ainda que continuará cobrando melhorias para a área de infra-estrutura na cidade, que segundo ele, merece uma maior atenção por parte do governo municipal. Outro ponto abordado pelo vereador foi a questão do trânsito na cidade. Ele citou alguns pontos falhos na legislação no que diz respeito à expedição de carteiras de motoristas. Para Zezin, tem que haver maior rigor na elaboração e na fiscalização da lei de trânsito. O vereador falou também da questão dos julgamentos de contas do José Augusto Maia, para ele, quem não deve não teme, por isso o ex-prefeito já deveria ter procurado exercer sua defesa na Câmara Municipal.

No uso da tribuna Fernando Aragão foi mais um que falou logo de início da questão política. FA falou que a desunião dos “taboquinhas” pode fazer com o que o grupo saia derrotado nas urnas em outubro. Ele foi mais um que centrou “fogo” em Edson Vieira e disse que ele é o verdadeiro adversário político do seu grupo, e que o mesmo não tem a simpatia do governador Eduardo Campos. Fernando disse que a candidatura de Diogo Moraes à deputado estadual pode ser fragilizada pelo fato da falta de unidade em SCC. Em aparte concedido pelo vereador, Ernesto Maia citou várias cidades onde Diogo não apóia José Augusto, e citou ainda a interferência de Oséas Moraes, pai de Diogo, na retirada de apoios que seriam dados a José Augusto em Toritama. Fernando replicou dizendo que na verdade Diogo não apóia outros candidatos à federal, e sim é apoiado por outros candidatos à Câmara. Para finalizar ele relembrou um acordo feito meses atrás onde Zé e Diogo teriam selado um acordo no Pólo das Confecções, e que o próprio Ernesto teria sido um dos pivôs do fracasso do que foi celebrado. Ao final da fala de Fernando, uma troca de farpas entre ele e Ernesto Maia expôs as desavenças entre os dois, evidenciando o clima pesado no âmbito do grupo situacionista.

Dimas Dantas elencou pontos a serem levados em consideração na formação do voto. DD disse que a atual eleição não se resume a apenas a disputa de dois blocos políticos. Ele voltou a ressaltar a importância de SCC ter representatividade na Câmara Federal, para garantir recursos para a cidade. Ele defende a candidatura de Eduardo da Fonte, como deputado federal, para que SCC não fique sem um deputado que consiga verbas em Brasília. Para ele, a cidade tem que evoluir na escolha dos candidatos, e as pessoas. DD citou ainda a importância da eleição de Diogo Moraes para que a cidade tenha mais força junto ao governador Eduardo Campos. DD finalizou sua fala se referindo aos candidatos à deputado federal que foram escolhidos por lideranças de SCC, e defendeu sua escolha por Eduardo da Fonte por, entre outros motivos, ele já ter conseguido verbas para a cidade e pelo mesmo ter acesso ao governador.

Em seu pronunciamento o Dr. Nanau também se referiu à expectativa em ralação à eleição. Nanau disse que tem andado em muitas residências de SCC e citou que ouviu relatos de populares de que integrantes do grupo “boca-preta” teriam dito que ele aderiu à bancada situacionista em troca de benefícios políticos, como por exemplo, a presidência da Câmara Municipal. O vereador se referiu também a um questionamento feito por Fernando Aragão na última semana sobre seu voto a deputado estadual. O vereador falou que quando aderiu ao grupo “taboquinha” teve como foco principal ajudar José Augusto Maia a se eleger deputado federal, e não pretende declarar seu voto á deputado estadual para não prejudicar a sua relação dentro do partido. Nanau de forma enfática se referiu à José Augusto, e disse que no próximo dia 03 de outubro a cidade irá comemorar sua vitória nas urnas. Ele finalizou dizendo que ainda é cedo para se falar em eleição municipal, que acontecerá apenas em 2012, mas que o seu grupo seguira forte e unido rumo a mais uma vitória.

Ainda muito abalado pelo falecimento de sua irmã, Aline Gomes, fato ocorrido na última semana, em decorrência de um câncer, Júnior Gomes agradeceu à população de Santa Cruz do Capibaribe, à classe política e a todos que se solidarizaram com ele e sua família nesse momento tão difícil. O parlamentar contou que ele e sua família vivenciaram uma verdadeira luta em busca da saúde Aline, mas que no final tinha sido feita a vontade de Deus, que quis levá-la para a vida eterna. Muito emocionado, ele pediu orações em favor de seus pais, abalados pelo trágico acontecimento, e citou a oração de São Francisco e disse que “é morrendo que se vive para a vida eterna”. Ao concluir sua fala, Júnior recebeu efusivos e demorados aplausos de todos os que estavam na Casa Dr. José Vieira de Araújo.

Deomedes Brito criticou a empresa de telefonia Claro que, segundo ele, tem prestado um péssimo serviço á população de SCC. DB falou também da questão política, e disse que a parceria estabelecida entre José Augusto e Cecílio Galvão foi essencial para a vitória do santa-cruzense. Ele defendeu de forma enfática que a população de SCC vote fechado na dupla, para que ao chegar à ALEPE, Cecílio traga benefícios para SCC. Ele disse que a eleição de José Augusto é importantíssima para a cidade, e citou que Eduardo da Fonte tem mais de 30 cidades em sua cota eleitoral, já José Augusto trabalha com um número menor de municípios em sua base eleitoral, o que fará com o que a região do Pólo das Confecções seja beneficiada com emendas parlamentares. O vereador disse também que por onde anda tem presenciado muitas pessoas votam em José Augusto e Cecílio. Mas também visitou famílias que optaram por votar em José Augusto para deputado federal e Edson Vieira para estadual.

Afrânio Marques, como não poderia ser diferente, em sua fala também abordou a questão política e citou várias contas reprovadas nas administrações do ex-prefeito José Augusto Maia. O legislador ainda citou alguns pontos para justificar seu voto em Edson Vieira para deputado estadual, dentre eles a reforma da quadra de Escola Professor Adilson em SCC. Afrânio ainda citou o seu candidato a deputado federal, Paulo Rubem Santiago, e citou a importância do advento de uma agência do INSS para a cidade de Santa Cruz, obra conseguida através da intervenção do deputado. Segundo ele, a agência trará muitos benefícios para a cidade. Para finalizar ele disse que a juventude da cidade não tem opções de lazer, e que agora através da intervenção do deputado o município será contemplado com a construção de uma quadra de esportes e a reforma de praças.

A elite que Lula não suporta

Nas encenações palanqueiras em que o presidente Lula invariavelmente se apresenta como o protagonista da obra de criação deste país maravilhoso em que hoje vivemos, o papel de antagonista está sempre reservado às "elites". Durante mais de 500 anos, as elites mantiveram o Brasil preso aos grilhões do subdesenvolvimento e da mais perversa injustiça social. Aí surgiu Lula, o intimorato, e em menos de oito anos tudo mudou. Simples assim.

Com essa retórica maniqueísta, sem o menor pudor Lula alimenta no eleitorado de baixa renda e pouca instrução - seu público-alvo prioritário - o sentimento difuso de que quem tem dinheiro e/ou estudo está do "outro lado", nas hostes inimigas. Mas a verdade é que o paladino dos desvalidos nutre hoje uma genuína ojeriza por uma, e apenas uma, categoria especial de elite: a intelectual, formada por pessoas que perdem tempo com leituras e que por isso se julgam no direito de avaliar criticamente o desempenho dos governantes. Por extensão, uma enorme ojeriza à imprensa. Com todas as demais elites Sua Excelência já resolveu seus problemas. Está com elas perfeitamente composto, afinado, associado, aliado e, pelo menos em outro caso específico, o das oligarquias dos grotões maranhenses, alagoenses, amapaenses e que tais, acumpliciado.

Até por mérito do próprio governo na condução da economia (nem sempre a imprensa ignora os acertos do poder público...), os ventos favoráveis que hoje, de modo geral, embalam o mundo dos negócios, muito especialmente os negócios financeiros, não permitem imaginar que o "poder econômico" considere Lula um inimigo ou uma ameaça e vice-versa. É claro que em público o jogo de cena é mantido, com ataques, sob medida para cada plateia, aos eternos inimigos do povo. Mas na intimidade o presidente se vangloria, em seus cada vez mais frequentes surtos apoteóticos, de que hoje o poder econômico, nacional e multinacional, está submisso à sua vontade. Não é, portanto, essa elite que tem em mente nas diatribes contra os malvados que conspiram contra sua obra redentora.

A revelação de seu verdadeiro alvo Lula oferece cada vez que abre a boca. Como no dia 18, em Juiz de Fora: "Essa gente não nos perdoa. Basta que você veja alguns órgãos e jornais do Brasil (...) Porque na verdade quem faz oposição neste país é determinado tipo de imprensa. Ah, como inventam coisa contra o Lula. Olha, se eu dependesse deles para ter 80% de aprovação neste país eu tinha zero. Porque 90% das coisas boas deste país não é mostrado (sic)."

Então é isto. Imprensa que fala mal do governo não presta, extrapola os limites da liberdade de informar. Não é mais do que um instrumento de dominação das elites.

Assim, movido por sua arraigada tendência ao autoritarismo messiânico que é a marca de sua trajetória na vida pública, Lula parece cada vez mais confortável na posição de dono de um esquema de poder que almeja perpetuar para alegria da companheirada. Um modelo populista, despolitizado, referendado pela aprovação popular a resultados econometricamente aferíveis, mas que despreza valores genuinamente democráticos de respeito à cidadania, coisa que só interessa à "zelite". Tudo isso convivendo com a prática mais deslavada do patrimonialismo, coronelismo, clientelismo, tráfico de influência, cartorialismo, aparelhamento e tudo o mais que Lula e seu PT combateram vigorosamente por pouco mais de 20 anos, para depois transformar em seu programa de governo. E em toda essa mistificação o repúdio às elites é a palavra de ordem e a imprensa, o grande bode expiatório.

O diagnóstico seguinte foi feito, com as habituais competência e sutileza, por um dos mais notórios fantasmas de Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista publicada no Estado de domingo: "Achei que (Lula) fosse mais inovador, capaz de deixar uma herança política democrática, mostrando que o sentimento popular, a incorporação da massa à política e a incorporação social podem conviver com a democracia, não pensar que isso só pode ser feito por caudilhos como Perón, Chávez, etc. (...) Mas Lula está a todo instante desprezando o componente democrático para ficar na posição de caudilho." Falou e disse.


Editorial do jornal Estado de São Paulo, publicado em 21/09/2010