quinta-feira, 28 de outubro de 2010

VITÓRIA EM DOSE DUPLA

José Augusto: a esperada derrota transformou-se numa incrível vitória
Os acontecimentos que marcaram a cena política santa-cruzense na noite da terça-feira 26/10/2010 dariam um excelente roteiro para um filme ou novela de TV. Nem o mais otimista Taboquinha imaginaria que tudo acabaria tão bem para o grupo. Nem o mais pessimista Boca-preta sonharia que tudo terminaria tão mal para sua facção política. Pelo conjuntos dos acontecimentos, não seria exagero dizer que seria mais fácil um raio cair três vezes no mesmo lugar do que testemunhar outra vez algo semelhante.

Estava em jogo o futuro imediato da carreira política do ex-prefeito José Augusto Maia, eleito deputado federal no dia 03 de outubro, mas com o registro da candidatura ainda pendente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os dez vereadores do município tinham a opção de julgar novamente as contas dos exercícios de 2002, 2006 e 2007, já que as votações anteriores dessas contas haviam sido anuladas pela própria Câmara. A outra opção seria aprovar um requerimento assinado pelos vereadores Ernesto Maia, Deomedes Brito e Dr. Nanau, estabelecendo a ouvida de testemunhas antes do efetivo julgamento das contas. A segunda opção prevaleceu, e provocou uma reviravolta na conjuntura política do município, particularmente no grupo governista.

Guerra entre aliados

A nau Taboquinha navegava em águas extremamente turbulentas desde que, às vésperas das convenções partidárias, no final de junho, o ex-prefeito José Augusto anunciou publicamente que não mais faria dobradinha com Diogo Moraes nas eleições legislativas, e que o seu candidato a deputado estadual seria Cecílio Galvão. A situação evoluiu para uma verdadeira guerra política entre os clãs Moraes e Maia, assim permanecendo até o dia da eleição, 03 de outubro.

Com o sucesso obtido nas urnas, tanto por Diogo como por José Augusto, a animosidade entre ambos pareceu diminuir, pelo menos publicamente. Mas nos bastidores o caldo continuava fervendo, e como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demorava a apreciar o recurso impetrado por José Augusto, contestando o indeferimento do registro de sua candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE), a luz vermelha acendeu para o ex-prefeito. Um insucesso na Câmara de Vereadores poderia influenciar o resultado do julgamento no TSE.

Nos dias que antecederam a votação na Câmara, o ex-prefeito deflagrou uma ofensiva diplomática quase desesperada, na tentativa de obter os votos de Fernando Aragão e Diogo Moraes no requerimento que ampliava suas possibilidades de defesa. Até à noite do domingo 24, não havia qualquer indício de que José Augusto obteria êxito nos seus esforços. Ao contrário, a derrota parecia se materializar a cada dia que passava. A virada só aconteceria entre a segunda e a terça-feira, dia da votação.

Leitura bíblica

A quase surreal noite Taboquinha foi permeada por aspectos de religiosidade. Na abertura dos trabalhos da reunião ordinária da Câmara, o vereador Deomedes Brito foi indicado para fazer a leitura bíblica. Coincidência ou não, o texto escolhido pelo edil trazia o sugestivo título de "Jesus acalma a tempestade".

No dia seguinte, no intervalo da entrevista que concedeu à rádio Comunidade FM, José Augusto mostrou uma foto tirada do seu celular na noite anterior, enquanto se desenvolvia a reunião da Câmara. Na foto, aparece a sua filha Hanna Raquel, de apenas 5 anos, orando em favor da aprovação do requerimento. O próprio José Augusto afirmou que acompanhou  grande parte da reunião trancado no banheiro, orando. Na quarta-feira, em declaração ao blog de Inaldo Sampaio, José Augusto declarou: "Só pode ter sido coisa de Deus". 

Os discursos

Durante os discursos dos vereadores governistas, exceção feita ao vereador Dimas Dantas, ficou evidente que o clima de desagragação e animosidade, que até então vinha prevalecendo no grupo, havia sido superado.

Primeiro a usar a tribuna, o presidente da Casa Fernando Aragão ocupou a maior parte do seu tempo falando da política nacional. Ao abordar a política local, afirmou acreditar que José Augusto obteria o deferimento do registro da sua candidatura no TSE e que assumiria o cargo de deputado federal.

À medida que ficava claro, pelo tom ameno dos discursos dos governistas, que o requerimento que ampliava o prazo de defesa do ex-prefeito seria aprovado, os vereadores oposicionistas passaram a demonstrar irritação com Diogo Moraes e Fernando Aragão. Afrânio Marques, Junior Gomes, Francisco Ricardo e Zezin Buxin fizeram discursos extremamente ácidos, com violentas críticas a José Augusto e aos dois edis.

Ironia ou providência?

Àquela altura permanecia uma incógnita: como votaria o vereador Dimas Dantas? Ao fazer uso da tribuna, o vereador abriu seu discurso falando sobre o requerimento apresentado pelos três vereadores situacionistas. Mantendo o seu estilo sinuoso de discursar, Dimas começou elogiando os aspectos técnicos do requerimento, que no seu entender era bem construído. Daí passou ao mérito da questão, antecipando que votaria contra o requerimento.

Justamente quando elencava os motivos pelos quais não acompanharia os colegas de bancada na votação, o vereador Ernesto Maia recebeu um telefonema de Brasília, dando conta de que o TSE acabara de deferir o registro da candidatura de José Augusto Maia. Um minuto depois, a rádio Comunidade FM levou a informação ao ar. No mesmo instante, uma multidão começou a comemorar do lado de fora da Câmara, provocando um enorme barulho. No auditório várias pessoas levantaram-se e foram conferir o que acontecia.

Sem entender o que acontecia, Dimas quebrou o ritmo da sua fala algumas vezes, olhando para a movimentação que acontecia na platéia e na Mesa. Só quando o vereador Fernando Aragão explicou do que se tratava é que Dimas pôde se situar, mas aí já tinha adiantado o voto e não podia mais simplesmente recuar. Ao final da reunião, o vereador ficou sozinho no plenário, esperando o momento mais adequado para deixar as dependências da Câmara sem ser hostilizado pelo multidão que se encontrava na frente da Casa.

Comoção e lágrimas

A votação do requerimento terminou empatada em 5 a 5. Os vereadores da Oposição votaram contra, acompanhados de Dimas Dantas. Coube ao presidente da Câmara Fernando Aragão dar o voto de minerva, desempatando a votação e aprovando a ampliação do prazo para a defesa do ex-prefeito José Augusto.

Contrariando radicalmente as expectativas iniciais, Diogo Moraes e Fernando Aragão saíram da Câmara de Vereadores aclamados pela multidão. Mesmo com o eficiente cordão de isolamento montado pela Polícia Militar, tiveram dificuldade para se desvencilhar de alguns correligionários mais entusiasmados. De lá, seguiram a pé para a residência do vereador Fernando Aragão, acompanhados do Dr. Nanau.

A essas alturas o ex-prefeito José Augusto já se dirigia à Câmara de Vereadores, onde foi recebido num clima de festa e comoção que superou em muito o da notícia da sua eleição em 03 de outubro. O ex-prefeito chorava copiosamente.

Observado por Fernando Aragão, José Augusto abraça Diogo Moraes
O esperado encontro de José Augusto, Diogo Moraes e Fernando Aragão aconteceu na frente da casa deste último. Ainda chorando, José Augusto abraçou-se por um longo tempo com os dois, enquanto a multidão que os cercava aplaudia e gritava os seus nomes. De lá os três seguiram em carreata pelas ruas da cidade, apesar de ser quase meia-noite.

Conjuntura política

Para o grupo Taboquinha, uma nova situação política emergiu dos resultados das urnas, combinados com os acontecimentos do dia 26/10. Apesar de alçado ao mais importante cargo da sua trajetória política, o de deputado federal, José Augusto não é mais o senhor absoluto do grupo, como o foi quando prefeito. Doravante, terá que exercer uma liderança compartilhada, especialmente com o grupo Moraes-Aragão.

Eleito deputado estadual, Diogo Moraes surge como uma liderança efetiva, potencializada pela estreita relação política e pessoal com o governador Eduardo Campos. A votação em favor do requerimento não enfraquece Diogo politicamente, muito pelo contrário. Com o seu gesto, conquista a simpatia dos mais de 6.000 eleitores que votaram em Cecílio Galvão para deputado estadual, e satisfaz a infinita maioria dos seus quase 10.000 eleitores santa-cruzenses.

Coordenador da bem sucedida campanha de Diogo em Santa Cruz do Capibaribe, o vereador Fernando Aragão também sai do processo maior do que entrou. Com isso, poderá acalentar mais uma vez o seu antigo projeto de encabeçar uma eleição majoritária, no caso do prefeito Toinho do Pará abrir mão da disputa.

Indo para Brasília, José Augusto terá que abrir mão de administrar o "varejo" da política do grupo, passando a ser ouvido apenas nas grandes questões. Doravante, não deverá tentar impor unilateralmente sua vontade, especialmente nas definições de candidaturas para a presidência da Câmara e chapas majoritárias.

A crise que acaba se ser superada deve ser encarada como uma lição muito séria para os governistas. Não tivesse havido o inesperado final feliz, os taboquinhas teriam marchado celeremente para a perda da presidência da Câmara, em dezembro próximo, e da Prefeitura em 2012.


por Jason Lagos

3 comentários:

  1. pois é quem deveria estar fiscalisando o dinheiro publico está encobertando os ladroes do nosso dinheiro.em quem mais devemos acreditar?

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  2. todo crocodilo chora quando devora sua presa

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  3. Parabens, Jason pelo texto e parabens tambem pela imparcialidade com que a Comunidade sempre trata os assuntos politicos.

    Posso disser com toda a confiança quem quer qualidade ouve COMUNIDADE!!!!

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