José Augusto: a esperada derrota transformou-se numa incrível vitória |
Estava em jogo o futuro imediato da carreira política do ex-prefeito José Augusto Maia, eleito deputado federal no dia 03 de outubro, mas com o registro da candidatura ainda pendente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os dez vereadores do município tinham a opção de julgar novamente as contas dos exercícios de 2002, 2006 e 2007, já que as votações anteriores dessas contas haviam sido anuladas pela própria Câmara. A outra opção seria aprovar um requerimento assinado pelos vereadores Ernesto Maia, Deomedes Brito e Dr. Nanau, estabelecendo a ouvida de testemunhas antes do efetivo julgamento das contas. A segunda opção prevaleceu, e provocou uma reviravolta na conjuntura política do município, particularmente no grupo governista.
Guerra entre aliados
A nau Taboquinha navegava em águas extremamente turbulentas desde que, às vésperas das convenções partidárias, no final de junho, o ex-prefeito José Augusto anunciou publicamente que não mais faria dobradinha com Diogo Moraes nas eleições legislativas, e que o seu candidato a deputado estadual seria Cecílio Galvão. A situação evoluiu para uma verdadeira guerra política entre os clãs Moraes e Maia, assim permanecendo até o dia da eleição, 03 de outubro.
Com o sucesso obtido nas urnas, tanto por Diogo como por José Augusto, a animosidade entre ambos pareceu diminuir, pelo menos publicamente. Mas nos bastidores o caldo continuava fervendo, e como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demorava a apreciar o recurso impetrado por José Augusto, contestando o indeferimento do registro de sua candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE), a luz vermelha acendeu para o ex-prefeito. Um insucesso na Câmara de Vereadores poderia influenciar o resultado do julgamento no TSE.
Nos dias que antecederam a votação na Câmara, o ex-prefeito deflagrou uma ofensiva diplomática quase desesperada, na tentativa de obter os votos de Fernando Aragão e Diogo Moraes no requerimento que ampliava suas possibilidades de defesa. Até à noite do domingo 24, não havia qualquer indício de que José Augusto obteria êxito nos seus esforços. Ao contrário, a derrota parecia se materializar a cada dia que passava. A virada só aconteceria entre a segunda e a terça-feira, dia da votação.
Leitura bíblica
A quase surreal noite Taboquinha foi permeada por aspectos de religiosidade. Na abertura dos trabalhos da reunião ordinária da Câmara, o vereador Deomedes Brito foi indicado para fazer a leitura bíblica. Coincidência ou não, o texto escolhido pelo edil trazia o sugestivo título de "Jesus acalma a tempestade".
No dia seguinte, no intervalo da entrevista que concedeu à rádio Comunidade FM, José Augusto mostrou uma foto tirada do seu celular na noite anterior, enquanto se desenvolvia a reunião da Câmara. Na foto, aparece a sua filha Hanna Raquel, de apenas 5 anos, orando em favor da aprovação do requerimento. O próprio José Augusto afirmou que acompanhou grande parte da reunião trancado no banheiro, orando. Na quarta-feira, em declaração ao blog de Inaldo Sampaio, José Augusto declarou: "Só pode ter sido coisa de Deus".
Os discursos
Durante os discursos dos vereadores governistas, exceção feita ao vereador Dimas Dantas, ficou evidente que o clima de desagragação e animosidade, que até então vinha prevalecendo no grupo, havia sido superado.
Primeiro a usar a tribuna, o presidente da Casa Fernando Aragão ocupou a maior parte do seu tempo falando da política nacional. Ao abordar a política local, afirmou acreditar que José Augusto obteria o deferimento do registro da sua candidatura no TSE e que assumiria o cargo de deputado federal.
À medida que ficava claro, pelo tom ameno dos discursos dos governistas, que o requerimento que ampliava o prazo de defesa do ex-prefeito seria aprovado, os vereadores oposicionistas passaram a demonstrar irritação com Diogo Moraes e Fernando Aragão. Afrânio Marques, Junior Gomes, Francisco Ricardo e Zezin Buxin fizeram discursos extremamente ácidos, com violentas críticas a José Augusto e aos dois edis.
Ironia ou providência?
Àquela altura permanecia uma incógnita: como votaria o vereador Dimas Dantas? Ao fazer uso da tribuna, o vereador abriu seu discurso falando sobre o requerimento apresentado pelos três vereadores situacionistas. Mantendo o seu estilo sinuoso de discursar, Dimas começou elogiando os aspectos técnicos do requerimento, que no seu entender era bem construído. Daí passou ao mérito da questão, antecipando que votaria contra o requerimento.
Justamente quando elencava os motivos pelos quais não acompanharia os colegas de bancada na votação, o vereador Ernesto Maia recebeu um telefonema de Brasília, dando conta de que o TSE acabara de deferir o registro da candidatura de José Augusto Maia. Um minuto depois, a rádio Comunidade FM levou a informação ao ar. No mesmo instante, uma multidão começou a comemorar do lado de fora da Câmara, provocando um enorme barulho. No auditório várias pessoas levantaram-se e foram conferir o que acontecia.
Sem entender o que acontecia, Dimas quebrou o ritmo da sua fala algumas vezes, olhando para a movimentação que acontecia na platéia e na Mesa. Só quando o vereador Fernando Aragão explicou do que se tratava é que Dimas pôde se situar, mas aí já tinha adiantado o voto e não podia mais simplesmente recuar. Ao final da reunião, o vereador ficou sozinho no plenário, esperando o momento mais adequado para deixar as dependências da Câmara sem ser hostilizado pelo multidão que se encontrava na frente da Casa.
Comoção e lágrimas
A votação do requerimento terminou empatada em 5 a 5. Os vereadores da Oposição votaram contra, acompanhados de Dimas Dantas. Coube ao presidente da Câmara Fernando Aragão dar o voto de minerva, desempatando a votação e aprovando a ampliação do prazo para a defesa do ex-prefeito José Augusto.
Contrariando radicalmente as expectativas iniciais, Diogo Moraes e Fernando Aragão saíram da Câmara de Vereadores aclamados pela multidão. Mesmo com o eficiente cordão de isolamento montado pela Polícia Militar, tiveram dificuldade para se desvencilhar de alguns correligionários mais entusiasmados. De lá, seguiram a pé para a residência do vereador Fernando Aragão, acompanhados do Dr. Nanau.
A essas alturas o ex-prefeito José Augusto já se dirigia à Câmara de Vereadores, onde foi recebido num clima de festa e comoção que superou em muito o da notícia da sua eleição em 03 de outubro. O ex-prefeito chorava copiosamente.
Observado por Fernando Aragão, José Augusto abraça Diogo Moraes |
Conjuntura política
Para o grupo Taboquinha, uma nova situação política emergiu dos resultados das urnas, combinados com os acontecimentos do dia 26/10. Apesar de alçado ao mais importante cargo da sua trajetória política, o de deputado federal, José Augusto não é mais o senhor absoluto do grupo, como o foi quando prefeito. Doravante, terá que exercer uma liderança compartilhada, especialmente com o grupo Moraes-Aragão.
Eleito deputado estadual, Diogo Moraes surge como uma liderança efetiva, potencializada pela estreita relação política e pessoal com o governador Eduardo Campos. A votação em favor do requerimento não enfraquece Diogo politicamente, muito pelo contrário. Com o seu gesto, conquista a simpatia dos mais de 6.000 eleitores que votaram em Cecílio Galvão para deputado estadual, e satisfaz a infinita maioria dos seus quase 10.000 eleitores santa-cruzenses.
Coordenador da bem sucedida campanha de Diogo em Santa Cruz do Capibaribe, o vereador Fernando Aragão também sai do processo maior do que entrou. Com isso, poderá acalentar mais uma vez o seu antigo projeto de encabeçar uma eleição majoritária, no caso do prefeito Toinho do Pará abrir mão da disputa.
Indo para Brasília, José Augusto terá que abrir mão de administrar o "varejo" da política do grupo, passando a ser ouvido apenas nas grandes questões. Doravante, não deverá tentar impor unilateralmente sua vontade, especialmente nas definições de candidaturas para a presidência da Câmara e chapas majoritárias.
A crise que acaba se ser superada deve ser encarada como uma lição muito séria para os governistas. Não tivesse havido o inesperado final feliz, os taboquinhas teriam marchado celeremente para a perda da presidência da Câmara, em dezembro próximo, e da Prefeitura em 2012.
por Jason Lagos
pois é quem deveria estar fiscalisando o dinheiro publico está encobertando os ladroes do nosso dinheiro.em quem mais devemos acreditar?
ResponderExcluirtodo crocodilo chora quando devora sua presa
ResponderExcluirParabens, Jason pelo texto e parabens tambem pela imparcialidade com que a Comunidade sempre trata os assuntos politicos.
ResponderExcluirPosso disser com toda a confiança quem quer qualidade ouve COMUNIDADE!!!!